Não há dúvida que uma das histórias mais interessantes do automobilismo brasileiro é a do carro Democrata.
Quem vê imagens desse carro pensa logo que ele tinha tudo para ser um dos grandes sucessos nas lojas dos anos 80 e a ideia do seu criador, o empresário Nelson Fernandes, era justamente essa.
Entretanto, com uma sucessão de problemas relacionados à entrega de material e um número bem alto de denúncias, a produção do Democrata virou uma piada nacional e deu muito material para o jornalismo automotivo da época, especialmente para a revista Quatro Rodas.
Até hoje, existem muitas especulações a respeito da razão pela qual o Democrata não deu certo, mas o que se pode dizer de maneira certa é que esse veículo somou apenas cinco unidades!
O melhor de tudo é que essas cinco unidades nem mesmo foram colocadas à venda: elas eram apenas para exibição de como o veículo ficaria depois de produzido!
Leia agora os principais detalhes desta história fantástica e que, ainda hoje, é muito comentada pelos amantes de carros.
Sonho considerado irrealizável veio de Nelson Fernandes
Como dito, o empresário Nelson Fernandes foi quem liderou a ideia de criar um carro do porte do Democrata com produção nacional.
Desde o começo, muitos julgavam que esse sonho do empresário era irrealizável devido a diferentes circunstâncias e alguns atribuíam essa ideia considerada mirabolante à imaturidade do rapaz, enquanto outros achavam que ele era megalomaníaco.
Opiniões à parte, o fato é que ele criou a Indústria Brasileira de Automóveis Presidente, chamada de IBAP, que tinha um objetivo ousado: igualar-se a nada menos que a montadora Volkswagen e chegar à produção de mais de 350 unidades diárias do Democrata.
A solução que Fernandes encontrou para fazer com que os funcionários “embarcassem” nessa ideia foi torná-los sócios da IBAP, ou seja, eram 120 pessoas que tinham ações na empresa e que, ao mesmo tempo, estavam ocupando as funções de produção do veículo.
A estratégia de Fernandes pode até ser considerada interessante: essas pessoas teriam afinco em fazer com que a produção se igualasse à da Volkswagen porque também queriam lucrar, já que eram proprietárias.
No entanto, a verdade é que tudo não passou dos cinco exemplares e uma produção efetiva do veículo nunca chegou a acontecer.
Para impressionar, cinco protótipos: os únicos exemplares
Hoje em dia, quando uma montadora cria um novo veículo, ela tem vários meios de mostrá-lo aos consumidores e despertar a sua curiosidade.
Naquela época, isso não existia e a IBAP tinha de ir de lugar em lugar do Brasil mostrando o Democrata pronto, ou seja, como ele poderia ser comprado depois de produzido.
Para que fosse possível apresentar o protótipo em mais lugares ao mesmo tempo, a IBAP preparou cinco unidades do Democrata, que iam circulando pelo Brasil, despertando desejo, curiosidade e denúncias em grande escala.
Quem batia os olhos no Democrata ficava mesmo apaixonado de cara, com a sua cor vermelha na parte externa e seu visual sedã.
Na parte de dentro, era encontrado um volante em estilo esportivo e o toque de luxo no carro pensado por Nelson Fernandes estava presente no jacarandá do seu painel.
Para arrematar, os ocupantes ficaram bastante confortáveis nos bancos de couro que os protótipos tinham e que seriam vistos na versão para lojas do Democrata.
A suspensão independente e os 120 cavalos de potência podiam ser considerados os pontos altos do modelo, mas é claro que existiam problemas, como o fato de o motor ficar muito quente em pouco tempo, favorecendo danos.
O seu chassi era de estilo italiano e, mais do que isso, era importado de lá. Porém, é claro que muitos ficaram descrentes com a rigidez do volante como um todo, o que fazia do Democrata um carro bem difícil de guiar.
Até contrabando foi mencionado
Mesmo que houvesse muita gente impressionada com os protótipos do Democrata e que Nelson Fernandes garantisse que aquele seria um carro fantástico, e que os sócios da IBAP iam ganhar dinheiro quase na mesma escala que a Volkswagen, a realidade foi duramente diferente.
Para começar, muitos veículos de comunicação passaram a usar o seu espaço para, publicamente, questionar a estrutura e até o capital que a IBAP poderia ter para produzir um veículo do porte do Democrata, ainda mais em larga escala.
Isso fez com que o Banco Central começasse a se envolver no acompanhamento do caso e ficou descoberto que faltavam duas coisas essenciais para uma linha de produção automotiva: registro de contabilidade e profissionais capacitados.
Até mesmo a Polícia Federal acabou tendo papel nos obstáculos que a IBAP enfrentou: sob suspeita de contrabando, uma carga enorme de motores que seriam usados no Democrata foi apreendida.
Tratavam-se de nada menos que 500 unidades e todas elas tinham sido fabricadas na Itália e estavam sendo importadas por Nelson Fernandes para a fabricação dos seus veículos.
Ainda existem unidades do Democrata nas mãos de colecionadores
A situação como um todo fez com que as atividades da IBAP se tornassem inviáveis e, dessa forma, a empresa fechou.
Sendo assim, o sonho de fabricar nada menos que 350 Democratas todos os dias também “morreu” junto a essa empreitada de Nelson Fernandes, restando apenas os cinco protótipos.
Três deles se perderam, mas dois ainda podem ser conferidos por quem ama carros e ficou encantado com essa história incrível.
Um deles faz parte do acervo do Museu do Automóvel, localizado na cidade gaúcha de Canela. Esse é um modelo com a cor vermelha que era considerada o símbolo desse modelo de veículo, sendo possível verificar cada detalhe prometido por Nelson Fernandes.
Já com relação à segunda unidade do Democrata, ela faz parte do acervo pessoal de um colecionador, mas o seu modelo é um pouco diferente: em vez da cor vermelha, a sua carroceria está na cor verde.
Exceto por essa diferença, a verdade é que todos os outros detalhes do projeto do Democrata podem ser verificados e, anteriormente, ele também estava em um museu.
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